Resenhas

Resenha | “Jackpot”, de Nic Stone

“Jackpot” é um livro surpreendente, tem representatividade e reflexões necessárias sobre a vida em sociedade. É o tipo de livro que ao mesmo tempo que te faz rir, te faz pensar nas diferenças sociais, de classe e de cor, sobre o acesso à educação, à uma boa saúde (ou a falta deles, melhor dizendo) e acima de tudo, cria empatia, porque a gente se coloca no lugar do outro.

Você disse que não tinha escolha, mas isso não é verdade. Todo mundo tem escolhas. Algumas delas são difíceis? Sim. Mas, se você quer muito alguma coisa…

A história é muito bem construída e os personagens são bem desenvolvidos, profundos e reais. Apesar de acontecer muito rápido, principalmente as mudanças de assunto, isso é feito com maestria pela escritora. É um livro que te cutuca, que dói por vezes, mas é isso que faz dele tão bom e necessário!! ❤📖

*Leitura Coletiva com a #lcabacaxipsiciana

Ter “perigo” como sobrenome seria legal se não fosse um nome tão impróprio.

Em “Jackpot” vamos conhecer a história da jovem Rico Danger que, trabalhando durante a véspera de Natal, vende um bilhete premiado para uma senhorinha.

Comecei assim, porque o bilhete é quem desencadeia toda a história que nos leva a conhecer essa jovem – tão empenhada em encontrar a ganhadora do prêmio – profundamente. É por conta desse bilhete que Rico pede ajuda a Zan, o garoto rico e popular da escola, e uma missão pra lá de divertida e cheia de emoção começa.

Mas não se enganem, esta não é simplesmente uma história de amor… não! Ela é cheia de reflexões, lições, representatividade, alguns tapas na cara e chacoalhões.

Uma garota pobre e negra, que precisa trabalhar para ajudar a mãe no sustento da casa, dar conta dos estudos e ainda cuidar de seu irmão mais novo é colocada ao lado de um menino rico, branco e que, aparentemente, não precisa se preocupar com nada na vida. São personagens contrastantes e isso rende uma boa história, não?!

Temos aqui, diferenças raciais e sociais, um relacionamento inter-racial, os privilégios de se ter dinheiro, diferentes opiniões sobre saúde, educação e família.

Rico é uma criança que, assim como muitas meninas pobres e negras, precisam sacrificar suas infâncias/adolescências para suprir a falta de um dos pais (muitas vezes de ambos) ou ainda para ajudar a complementar a renda da casa, como no caso da nossa personagem em questão, pois o que a mãe ganha não é o suficiente. Além disso, a mãe de Rico mostra-se teimosa e irredutível quanto a pedir qualquer tipo de ajuda, não aceitando nem o que é seu de direito (benefícios do Governo), submetendo assim a própria filha à responsabilidades que não lhe cabem.

Quando você vive na corda bamba como minha família, não há nada pior do que ter a esperança, mesmo a menor que fosse, sendo jogada nas pedras no caminho da vida.

Créditos 📸 Até a última página

Assim, desde cedo Rico aprendeu que precisaria deixar de lado seus sonhos e desejos para ajudar a mãe e fazer o melhor por seu irmãozinho, para que ele não tivesse que abrir mão de seus sonhos também. E isso acabou transformando-a em uma menina retraída, um pouco deslocada até, que não sabe pedir ajuda. Alguns diriam, orgulhosa! Eu não vejo assim, acredito que ela apenas espelhou o que tem dentro de casa.

Há poucas coisas piores para uma criança pobre do que criar coragem para ter esperança e depois vê-la ser pulverizada em partículas subatômicas sob o peso de (outra) decepção.

E então temos Zan, que chega para mostrar à Rico que apesar das preocupações com a falta de grana, ela pode e deve enxergar a vida com mais otimismo e aprender a tirar sempre o melhor de tudo. Aprender que ela sempre tem uma escolha, por mais difícil que aquilo pareça no momento.

Zan é um personagem equilibrado, cheio de força, foco e bom humor. Mesmo sendo rico, ele mostra que foi criado para dar valor as coisas, que tem que se esforçar e provar que merece algo e que também tem problemas e preocupações. Ainda que tire a paz de Rico na maior parte do tempo (o que nos rende bons diálogos), é ele que consegue fazê-la acordar para a vida. Ele que traz emoção e amor para sua vida. ❤

Jess, a vizinha e futura amiga de Rico, também tem um papel especial e essencial na vida da personagem. Ela chega para mostrar que nem tudo é o que parece e precisamos conhecer / saber o que o outro realmente passa antes de fazer qualquer tipo de julgamento.

Créditos 📸 Até a última página

Quem consegue entender esses humanos e o tanto de emoções que eles têm?

Criar capítulos a parte com o ponto de vista de objetos inanimados, como o do bilhete premiado por exemplo, foi o ápice da leitura. Mandou benzão, Nic! |Uma sacada e tanto, ouso dizer.

É isso, pessoal, não posso contar mais, pois acabaria falando demais e esse não é o objetivo. A ideia aqui é instigá-los a procurar o livro, fazer descobertas, refletir e tirar suas próprias conclusões. Então, leiam o livro para saber se Rico e Zan encontram a senhorinha com o bilhete premiado e se Rico será capaz de se abrir para novas experiências e se permitir desfrutar a vida da melhor maneira, apesar das dificuldades. 😊😉 Depois voltem aqui e me contem o que acharam, ok!!?

SOBRE A AUTORA:


Andrea Nicole Livingstone, conhecida como Nic Stone nasceu e cresceu em um subúrbio de Atlanta, Geórgia. Depois de se formar pela Spelman College, ela trabalhou extensivamente orientando adolescentes e viveu durante um tempo em Israel, antes de retornar para os EUA e se dedicar à escrita integral. Ela mora em Atlanta com o marido e os filhos. Nic Stone é autora de Dear Martin, finalista do prémio William C. Morris e bestseller do New York Times. Escreveu também obras como Dear Justyce, Odd One Out, Jackpot, Clean Getaway e a série de livros da Shuri, personagem da Marvel.

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Quem quiser saber mais sobre a autora, encontrei um artigo no blog na Intrínseca, bem legal, apesar de ser de 2020. Acesse aqui!

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